19 abril 2006

Coisa de Gordo - 268

268-O Mistério do Cáqui Doce
Após ter sido nocauteado pela nossa leitora Claudete de Jundiaí, que me ensinou que o certo para a fruta é CAQUI (oxítona) e não CÁQUI (paroxítona), fui socorrido por outra leitora, Mirian, de Porto Alegre, que me disse que no Dicionário Aurélio ele concorda com a Claudete, mas faz a ressalva de que "no Rio Grande do Sul, o uso é CÁQUI mesmo". Ufa, que alívio.
Vamos de cáqui, portanto.
Tendo dado ciência ao grande público a respeito da minha atual fixação pela doce fruta de inverno, passei a receber ofertas de cáquis os mais variados. De tal sorte que tenho em minha cozinha uma bacia cheia do gostoso CÁQUI-CHOCOLATE, aquele mais duro, mas igualmente doce, para consumir a qualquer hora. Só que já havia comentado que a real paixão que nutro centra-se naquela variedade mais mole do cáqui. O cáqui que se desmancha na boca, como comentei.
Uma amiga que no passado já me ajudara a obter cáquis deliciosos (leia o CG- 69 lá no site COISA DE GORDO, para lembrar a empreitada e ver as fotos) chamada NANCY, me presenteou essa semana com um pequeno pote desses que se coloca dentro da geladeira, em cujo interior jaziam dois desses cáquis maravilhosos. Guardei o presente e o levei para casa para consumi-lo como sobremesa, depois do almoço. Ao fazê-lo, tive ímpetos de uivar e me jogar ao solo, tal a doçura e o sabor daquelas duas tenras frutas.Uma delícia, uma loucura.
No dia seguinte, agradecendo à amiga o presente e lhe relatando a impressão que obtivera, soube dela a origem daqueles dois cáquis encantados. Vieram de uma casa ali na encosta do morro, Silvano - disse-me ela com os olhos fixos no infinito. E então discorreu detalhes de como se chegar à tal casa. E mais ainda. Contou que ela fora lá e descobrira que os moradores não gostavam da fruta e que os cáquis do tal pé santificado jaziam desprezados ao solo. Um autêntico caso de "pérolas aos porcos". Ou de "milho para quem não tem dente". Como entender isso? Como supor que numa casa de minha cidade more uma família detentora dos direitos de posse sobre o mais doce caquizeiro da face da Terra, sem com isso se importar? Sem comê-los. Sem degustá-los. Apenas os deixando apodrecerem ao solo.
Ainda confuso com tal ocorrência, começamos a debater as possíveis causa para que aquela árvore concedesse aos seus frutos um sabor tão qualificado, tão diferenciado, tão único e insubstituível. Ponderamos o clima, a inclinação do terreno, a seca, a chuva, a camada de ozônio até que enfim chegamos ao X da questão. O mistério desdobrou-se límpido diante de nossos olhos. Clareou-se sem deixar resquício de dúvida.
Amigo leitor, acredite. A tal rua fica no morro mais alto da cidade que é onde se situa adivinhe o quê? Sim, como sempre, no lugar mais alto, fica o Cemitério Municipal. Uma quadra abaixo disso está a casa. Próxima, muito próxima. Já percebeu, né?
O que dá sabor aos cáquis ali nascidos é o adubo municipal produzido pela população que jaz sob o solo, após enterrada. Ficou claro! O alto daquele morro é continuamente adubado com matéria orgânica de seus munícipes. E partindo desse raciocínio, concluí que por se tratar da terra da Rapadura, nossos cidadãos acabam "adoçando" as culturas que findam por "adubar".
Ficou com nojo? Esqueça. É apenas aquela velha Lei de Lavoisier que já dizia que "nada se perde, tudo se transforma".
Eis o mistério adocicado do cáqui mágico de Santo Antônio. É que o pé está a uma quadra de distância do Cemitério, e uns vinte metros abaixo no nível de elevação.
Quer saber onde fica? Não posso revelar. É segredo de gordo. Se espalhar vai faltar prá todo mundo comer. Nem eu nem a Nancy (que é "magra de ruim") vamos revelar.
Silvano - causando náuseas
SHOW DE ORTOGRAFIA
Essa mesma leitora Mirian que trouxe luzes sobre a escrita do cáqui, aceitou o desafio que propus e me respondeu. Lembram que pedi quem seria capaz de lembrar outra palavra paroxítona terminada em I? Pois ela me mandou uma: JÚRI. Matou a pau. Matou a pau.....
20/04/2006

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