10 janeiro 2007

Coisa de Gordo - 306



306 - Faxina no Ano Novo
Essa mudança de ano mexe com algumas coisas em nossa psicologia, mesmo que se saiba que tudo continua igual, apenas uma folha do calendário virou. Mas sempre fica essa coisa do recomeço, do refazer, do reiniciar. Lembro de certa vez em que fomos fazer um orçamento para pintura de nossa casa, quando o dono da loja de tintas alertou que se quiséssemos pintar a casa ainda em dezembro o preço era tanto. Se deixássemos para janeiro ou fevereiro o preço caía a menos da metade. É que as pessoas querem “entrar o ano com a casa pintada” – explicou-nos ele. Isso aí, a casa pintada.
Na esteira desse processo, a gente se dedica à Faxina de Ano Novo. É aquele momento em que, despidos de certos pruridos e muitas frescuras, a gente se dá conta de que guarda muita bobagem ao longo do ano todo. Hora é, portanto, de colocar coisas fora, doar o que não se quer, destinar o que não nos serve mais.
Munido dessa motivação, tenho sentado olhos em setores da intimidade doméstica e fico estarrecido ao ver o quanto somos acumuladores. Juntadores de quinquilharias. De trecos. De coisinhas. Desde um parafuso até um sofá bi-cama que a gente jura que um dia vai precisar. Minha sogra sempre me lembra aquele saber popular que diz que quem guarda o que não precisa sempre tem o que precisa. Pode até ser, mas a persistir essa idéia, teremos que nos mudar para galpões!
Voltemos à minha biblioteca pessoal. Calma, não me julgue arrogante, apenas denomino biblioteca aquele pequeno agrupamento de livros que estão colocados numa mesma peça da moradia. Pois bem, o ano virou, estávamos aplicando a teoria da faxina do ano novo na garagem até que, entre caixas e prateleiras, surgiu um livro. Um livro inútil, perfeitamente enquadrável nos critérios da tal faxina. Vamos doar à Biblioteca Municipal – determinei. Surgiram outros na mesma situação. Os fui separando. E aí me dei conta de que podia fazer uma averiguação nos livros de minha (citada) biblioteca.
Fui com sede. Amigo(a), você nem imagina o quanto de livros eu separei para a doação. Impressionante. E isso que tenho uma relação estreita com os livros. Os adoro, os compro, os busco, os encomendo onde estiverem! Sou um leitor viciado, um dependente literário, tenho que ler e ler e cada vez mais ler. Não me julgue, portanto, um indiferente. Mas aí é que quero comentar. O tempo passa e a gente muda não apenas de ano, mas de referenciais. Havia ali, por exemplo, vários livros do Luiz Fernando Veríssimo. Em tempos passados eu era um aficionado leitor de seus textos. Muitos anos depois, ele apoiando abertamente os governos corruptos do PT no Rio Grande do Sul e no Brasil, vi que não o idolatro como antes. E assim destinei para doação a maioria dos livros dele que eu ainda guardava. Isso foi só um exemplo. Catei ainda livros sobre o Santo Graal, sobre milagres e profecias, livros sobre a Iugoslávia e a política nos Balcãs, livros com dietas estranhas, livros que sei que não terei tempo de ler, a vida é curta! A exemplo de um hamster que enche a bochecha de comida para só depois engolir, a gente vai empilhando coisas literárias na esperança de que um dia venha a ler, ou ler de novo. Não haverá tempo para tal “refeição”.
O que me leva a um outro devaneio. Quando morre uma pessoa e a gente vai examinar os seus pertences, os seus livros, os seus CDs, nem sempre aquilo reflete o momento de vida da pessoa que morreu. A gente muda de gosto, passa fases, evolui. E às vezes aquele LP da Beth Carvalho permanece em destaque no armário, em detrimento do show ao vivo do Keith Jarret na Alemanha. Portanto, viúvos e viúvas, cautela ao estabelecerem conclusões sobre quem morreu. Pode ser que aquele livro sobre o Movimento Gay na Lituânia tenha vindo de brinde em alguma cesta de natal, sem outras interpretações quaisquer. Tenha cautela, tenha cautela....
Fechando a história, levei quase vinte livros para doação! Pronto, o espaço ficou vazio, limpo, asseado. Agora, basta saber que tenho o resto do ano para preenchê-lo de novo. Com outros livros, outras coisas, outras histórias.
E você, está esperando o quê? Comece logo...
Silvano – defenestrando o passado


PÁRA-CHOQUE DE CAMINHÃO
E eis que na BR-290 passa aquela jamanta a todo vapor exibindo a frase:
“AERONAVE DE VÔO RASTEIRO”
Esses caminhoneiros....

11/01/2007

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