09 novembro 2007

Coisa de Gordo - 349


349 – O CLONE
Por um acaso do destino, uma jogada da sorte, uma distração, sei lá, faz uns anos que dei início a um ritual pessoal que supus, num primeiro momento, sem maiores conseqüências. Do que estou falando? Cada vez que tinha que cortar as unhas, tomava deu meu mega-cortador de unhas e dirigia-me aos fundos da casa, ali, no pequeno pátio, para assim proceder. Após algumas vezes em que assim fiz sem muito me aperceber de nada estranho, eis que num belo dia algo inusitado aconteceu.
Houvera eu cortado algumas unhas iniciais da mão direita quando notei que algumas formigas se apropriavam vorazmente de meus restos corpóreos. Sim, elas andavam atarantadas e excitadas, parece que nunca tinham visto aquilo, iniciaram uma pequena algazarra (claro que só perceptível aos ouvidos de formigas) e se apossaram daqueles pequenos pedaços de mim.
Intrigado, mas igualmente curioso, permiti que aqueles pequenos seres se apropriassem de mim, ou quase isso, tomando-me de um sentimento ecológico. Perceba que eu mesmo estava sendo reaproveitado como uma espécie de “lixo limpo”. Sim, amigo(a), descobri que eu era reciclável!
A partir desse dia comecei a repetir o ritual, só que já com uma consciência amistosa, uma euforia por estar me doando literalmente ao reino animal. Passei a fazer parte da cadeia alimentar das formigas. A onça come o tamanduá. Este come a formiga. E a formiga me degusta. E uma coisa impressionante se estabeleceu. As formigas começaram a controlar o ritmo de crescimento de meus anexos (unha, cabelo, etc..) e já me aguardavam festivas no pátio de trás.
Assim viemos nos relacionando. Até que um novo evento se estabeleceu...
Sentei olhos ao formigueiro e percebi que ele começou a mudar de tamanho. Ficou elevado, arredondado num primeiro momento, mais alongado logo a seguir. Sim, adquiriu um formato de túmulo, de cova, o formato de um corpo humano enterrado. A julgar pelas dimensões, dei-me conta de que as formigas montaram um clone meu, uma cópia, um Silvano alternativo, um outro EU. Mas fique calmo(a). Elas ainda não concluíram seu serviço. Continuo indo ao fundo do pátio cortar as unhas, só que agora o faço ensimesmado. Taciturno. Pensativo.
Como pode terem essas formigas me xerocado desta forma? Imagino que tenham reunido no terreno outros vestígios de minha passagem. Gotas de suor. Cuspe. Espirro. Partículas e lascas de minhas células, contendo meu rude e atrofiado DNA. O que viram em mim estes pequenos seres? Por que comigo? Com tanta gente inteligente, esbelta, magra e instruída no mundo, por que me selecionaram? Imagino que sejam formigas de alguma estatal, que fizeram uma espécie de licitação e tiveram que pegar o mais barato. O mais acessível. O que estava à mão.
Um outro EU, eis o que surge no fundo do meu pátio. Imagine você, estas chuvas estranhas de primavera, raios e trovões a bramir nas madrugadas. Numa bela noite de lua cheia, ali, naquele canto de pátio, um ser levará uma descarga elétrica e em torno da meia-noite levantar-se-á debaixo da terra. Sim, estou pressentindo, ele virá. O novo Silvano. Mais educado, menos desbocado. Com a chance incrível de recomeçar do zero. Sem rusgas com o PT, sem antipatias, sem exageros alimentares. Orientado que será pelas suas genitoras, imagino que vá ser um cara trabalhador, esforçado, com sentimento de comunidade. E vai ter arrepios de tamanduás.
Fique atento(a), portanto. E ao me encontrar na rua, se ficar em dúvida, faça o teste derradeiro. Ofereça-me uma Lata de Leite Moça. Se eu recusar e alegar que não como aquilo, que até acho estranho a pessoa andar com uma lata daquelas na bolsa ou pasta....saia de perto, fuja, chame a polícia. O novo Silvano chegou e tomou conta. É um impostor! Só falta falar mal da Coca-light...bom, aí é a prova cabal! Mande matar! Com Inseticida!
Silvano – o impossível


VEM CÁ, MAS NÃO ERA PARA TER SAÍDO NA QUINTA?
Sim, sim, esta coluna já era para estar on line desde ontem! Mas motivos profissionais me impediram. Desculpe, portanto.


09/11/2007

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