28 agosto 2008

Coisa de Gordo - 391


391 – O MAL AGORA TEM ROSTO
A vida em cidades pequenas, como esta em que vivo, tem coisas muito interessantes. Coisas que só se vê em cidades do interior. Durante anos, muitos anos, a comunidade local conviveu com um LADRÃO de alcunha “Chapalito”, verdadeira celebridade local. O cara tinha (e ainda tem) o dom do furto, entrava nas casas e surrupiava coisas, objetos, jóias, videogames, TVs e o que mais estivesse ao alcance de sua mão.
Mês findava, mês se iniciava, lá vinha uma história de alguém cuja casa fora devassada por esse cara. A polícia sabia onde ele morava, conhecia sua mãe, suas irmãs, a cada caso de furto na cidade lá iam os homens da lei atrás do Chapalito. E em muitos casos recuperaram os objetos.
A coisa veio num ritmo frenético de crimes e diante da indignação da comunidade, sempre se esbarrou na lei que protege os “menores de idade”. Alguém denunciava, o cara era preso, mas, como diria a turma do Casseta e Planeta, ele era “DIMENOR”.
Interessante que o criminoso possuía um “modus operandi” característico, uma espécie de marca registrada dele. Sempre entrava na casa das pessoas em horário normal, meio-dia às vezes, casa cheia, todo mundo almoçando. Naqueles curtos minutos em que a atenção de todos se voltava ao comer, o bandido adentrava a casa e levava sua muamba.
A cidade de Santo Antônio conviveu por anos com esse meliante, sem ter muito o que fazer. Talvez isso ilustre as falhas de nossa lei. E foi sendo urdido na cidade um ódio coletivo, uma raiva diante de tamanha impunidade.
Dia desses, conversando com amiga minha que trabalhava em creches municipais, ela lembrou-me que mais de uma vez ela levou o tal menino para consultar comigo (na época ele era criança). E rimos ao lembrar que fornecíamos leite em pó para ele, ou seja, nós (sociedade) alimentávamos o pequeno monstro já na sua infância. Para que depois ele viesse a nos assaltar.
Todas as conversas confluíam sempre para um mesmo ponto. Mas afinal – dizíamos – como é a cara desse cara? Alguém tem alguma foto desse pilantra? Sim, as autoridades tinham várias fotos, mas não podiam divulgar, publicar, pois ele era menor de idade.
Engraçada essa lei que protege crianças e adolescentes criminosas. Não se pode falar no nome nem se mostrar a foto deles. Mas se um deles estuprar e matar uma menina, o nome dessa menina vai sair nos jornais. E a foto também. Então vejamos. O menor assassino tem que ter sua identidade protegida, coitadinho. O menor assassinado pode ser exposto à publicidade. Dá para entender? Eu não consigo!
Enfim, os dias se sucederam e os anos passaram. O cara enfim se transformou num maior de idade. Atingiu os dezoito anos. Mesmo para os canalhas o tempo passa. No jornal local desta semana, a Folha Patrulhense (http://www.folhapatrulhense.com.br/) eis que surge na página policial, pela primeira vez, a foto e o nome do Chapalito. O cara se chama Daniel Santos da Silva e sua cara é esta aí da foto. O mal, portanto, agora tem rosto.
Sei dos crimes cometidos, sei do contexto social, mas sempre que vejo um vagabundo desses algemado, sendo levado para mais uma detenção, não consigo deixar de sentir um tanto de pena. O que não me impede de ficar feliz sempre que ele é preso. Lá vai mais um bandido para trás das grades!
Lembro vivamente da Mãe e das irmãs do cara (a quem eventualmente também atendi). Lembro da expressão irônica da velha, sua cara desaforada, feliz com sua omissão diante da vida. O filho que ela tinha que ter educado, limitado, moldado, é hoje uma celebridade no crime.
Se lá naquele tempo em que ela ganhava leite em pó do município ela tivesse atuado como uma verdadeira mãe, talvez o destino do cara fosse outro. Talvez fosse um cidadão de bem, trabalhador, alguém voltado à família. Mas não foi o que ela fez. Com sua empáfia, sua arrogância, sua inconseqüência, ela onerou e continua onerando a sociedade com sua atitude. Semeou um jovem delinqüente, está agora colhendo um criminoso pós-graduado.
Para finalizar, uma ironia. O cara enquanto menor de idade fez e aprontou, sem que se conseguisse deixá-lo preso. Sabe por que ele foi enfim preso agora? Por ter furtado um passarinho! Isso mesmo, não foi TV nem computador. O cara furtou um passarinho com uma anilha do Ibama, e por isso, foi enfim para o Presídio Regional. Abandonado pela mãe. Odiado pela cidade. Preso por um passarinho.
Silvano – o impossível


LEITOR MANDA DICA DE DVD
Olá Silvano! Para quem gosta de música, vai a dica de um ótimo filme: trata-se de "Apenas Uma Vez" (Once), vencedor do Oscar 2008 de melhor canção original por Falling Slowly (composta pelo casal protagonista, Glen Hansard e Markéta Inglová). É um filme simples, que partiu de um roteiro de 60 páginas e foi filmado em apenas 17 dias, mas é essa simplicidade que faz dele um sucesso. Extremamente poético e tocante ele mostra o quanto a música pode aproximar as pessoas. Tem como tema um músico irlandês que toca composições próprias nas ruas de Dublin para ganhar alguns trocados. Numa dessas apresentações ele é assistido por uma tcheca que se encanta pelas melodias e entra, sem querer, na vida dele. Movidos por uma grande paixão, que é a música, eles acabam compondo canções sentimentais juntos. Uma das curiosidades é que o protagonista Glen Hansard é cantor, violonista e compositor e integra a banda The Frames e lançou seu primeiro álbum, The Swell Season, em 2006, projeto que teve a participação da multi-instrumentista, compositora e cantora Markéta Inglová. Vale a pena locar o filme, é dez!!
Flávio Rogério – do litoral norte gaúcho


28/08/2008

1 comentários:

Rogério de Moraes disse...

Olá Silvano. Grato pelo seu comentário entusiasmado. Pode ficar tranquilo que não fui abduzido e muito menos fui trabalhar pro governo. Quanto ao blog, ele nunca saiu do ar, o que indica algum problema ou no link que você tem ou no Blogger, que às vezes fica meio bagunçado. Testei o link aqui do Coisa de Gordo e realmente não entrou, embora esteja certo. Sei lá, mistérios... De resto, o blog aqui continua muito bom, como sempre. Forte abraço.