11 setembro 2008

Coisa de Gordo - 393


393 – VOCÊ TEM FOME DE QUÊ?
O tema da fome é uma coisa muito maluca. A gente ouve todo dia pelo menos umas dez ou vinte vezes a palavra FOME, seja de nossa própria boca, antes do almoço, seja das pessoas ao redor, seja do casal do Jornal Nacional. Se tivéssemos que selecionar as cinqüenta palavras com as quais passamos o dia, por certo a fome estaria lá pelo alto da lista.
Fome na Etiópia, Programa Fome Zero, fome de votos, o termo preenche os minutos da TV e do Rádio. A palavra ficou até vulgar. Banalizamos o seu uso. No futebol? Fome de gols.
No meu dia-a-dia profissional, as mães me repetem em cantilena que seus filhos não têm fome! Amigo(a), se elas permitissem que a criança tivesse fome...
Isso me lembra certa criança que tive a chance de atender, tempos atrás, cuja mãe me pranteava exatamente isso. “Ela não come, ela não quer nada, a gente tem que ficar oferecendo coisas o tempo todo” e por aí afora. Mães são assim. E em seu relato minucioso ela me contou que a cada vinte ou trinta minutos ela assediava a criança com um prato de mingau, ou uma gelatina, ou uma bolacha, ou sei lá eu o quê! Na hora do sono, ela traiçoeiramente socava uma mamadeira na criança a cada três horas. Pensei um pouco e disse a ela que a pobre criança nunca tivera a sensação de fome em toda sua curta vida de dois anos. Que ela, a mãe, nunca permitira que aquela área do cérebro que dá o aviso, o alerta da fome, fosse irrigada por sangue. Que a filha dela tinha uma espécie de deficiência cerebral, tendo em vista a total vigilância alimentar que a própria mãe exercia. E finalizei pedindo que ela desse uma folga para a coitada da criança, para que, pela primeira vez na vida, ela pudesse ter s sensação de fome! Os olhos aterrorizados daquela mãe me perscrutaram de cima a baixo, ela silenciou, a consulta terminou e ambas se foram. Para nunca mais voltar. A verdade assim colocada, por vezes fere ouvidos mais sensíveis.
Trago esse tema para uma pontinha de filosofia. Dia desses, horas adiantadas, algo me impediu de seguir a rotina tradicional de acordar, banho, café, pasta de dente, trabalho, almoço...blá..blá..blá. E eis que lá pelas tantas senti essa estranha sensação. Sim, amigo(a), falo dela, aquela que a citada criança nunca tivera! Para admiração minha...eu estava com FOME!!! Gente do céu... – pensei de mim para mim mesmo – então fome é assim. Tinha até me esquecido! No meu específico caso, havia uma mescla de um pequeno mal-estar abdominal, com um centésimo de enjôo, um milésimo de irritabilidade e sim, eu estava com fome!
Percebi, diante do acima exposto, que na rotina em que vivemos acabamos da mesma forma impedindo que a fome apareça. A gente trabalha duas ou três horas e dá um tapa numa bolachinha. O relógio bate meio-dia e a gente não pára para ver se tem fome. O horário apertado nos faz ir até o bufê, a lanchonete, ir até em casa e simplesmente almoçar. Sem fome. Três da tarde, uma fruta ou um suco. E assim por diante o dia se passa, sendo a nossa fome mitigada com coisinhas aqui e ali. Ter de novo sentido uma real sensação de fome me fez lembrar da tal mãe da tal criança. Claro que não nos socamos coisas o tempo todo. Mas eventualmente abrimos mão de sentir fome. Não há tempo para isso.
A fome tem lá suas vantagens. Anos passados, éramos crianças na cidade de Santiago-RS. Os tios se reuniram, tomaram de uns filhos e fomos todos a uma pescaria. Você, que vive no mundo moderno de hoje não deve saber o que é isso, uma pescaria. Era um antigo ritual social, um hobby para alguns, aonde se ia até uma lagoa, um rio, ou ao mar para se tentar capturar alguns seres que naquela época viviam dentro da água. Os peixes. A gente fazia um fogo, um café para passar o tempo, botava as linhas na água e esperava o tempo passar. Pois bem, tínhamos ido pescar, já estávamos de volta, fim da tarde, e então a caminhonete atolou. Ou estragou. Ou sei lá. Algo nos impediu de prosseguir viagem motorizados. Os adultos começaram a se organizar, quem é que vai buscar um trator aqui por perto.. Ah, sim, eram tempos em que não havia telefone celular. Nós crianças, os primos, fomos orientados a ir seguindo a pé, pelo meio do campo, a noite já começava a aparecer. Em grupo de quatro ou cinco primos, fomos voltando para a cidade em meio ao escuro da noite. Aí nos bateu uma fome. Não uma fome qualquer, mas aquela fome de quando se volta de um passeio estafante. De quando se está sujo, embarrado, cansado. Esta fome é mais forte. Andávamos e lamentávamos o ocorrido até que passamos por uma lavoura de milho. Os pés verdes, as espigas mal e mal apontando, aquilo nos pareceu apetitoso. Invadimos a lavoura e aqui e ali, pegamos aquelas espiguinhas de milho bem pequenas, moles, fáceis de mastigar. E, acredite, aquilo comido ali, na escuridão, no fim daquele dia, foi um banquete dos deuses. Graças a quê? Graças à FOME! Até hoje, sempre que como essas saladas onde colocam essas mini-espigas de milho em conserva, sou remetido àquela cena rural. Sim a fome tem mesmo suas vantagens. Tornar delicioso qualquer prato comido.
Uma hora dessas experimente isso. Pode ser num fim-de-semana. Permita-se sentir fome. Você vai dar risada de ter ficado tanto tempo sem sentir tal sensação.
Silvano – o impossível


MEA CULPA
Andei contando aqui uma história na qual eu houvera sido FURTADO em minha própria casa, relatando que uma mulher trouxera sua filha para consultar e num momento de descuido meu ela pegara minha máquina fotográfica. Volto ao tema para fazer uma MEA CULPA. Dia desses, andando de carro, meu guri foi juntar algo no chão do carro e - SURPRESA!! - lá estava a máquina fotográfica! Para espanto geral, a máquina tinha voltado! O guri me disse que devia estar num compartimento do carro que eu até este dia desconhecia existir. Uma fresta sob o banco traseiro. E que a máquina sempre estivera ali! Resumindo: - a mulher não me furtou nada! Eu sou um bocoió! E concorro ao troféu BOCA ABERTA 2008. O que a idade faz com a gente...


LEITOR MANDA DICA DE FILME
Indiferença - Será que existe alguém inocente? Será que somos realmente pobres vitimas das injustiças políticas e sociais? Falamos mal dos políticos, e com razão podemos acrescentar, mas, o que fazemos para melhorar a situação do nosso país? Enchemos o peito, e bradamos em alto e bom som toda espécie de criticas contra aquilo que temos certeza que é errado. Como se isso apaziguasse nossas consciências, pois de verdade, que ações concretas praticamos para realmente mudar alguma coisa? Nem mesmo contra nossos próprios e menores defeitos nos dignamos a lutar com afinco... Ou seja, não fazemos o bem nem a nós mesmos.
Olhando o filme “Lions for Lambs” (Leões e cordeiros) refletimos sobre os interessantes diálogos entre um senador e uma repórter, um professor e um aluno, onde vemos claramente os interesses de cada um.
Dentre as cenas do filme, podemos observar a realidade do que realmente move as atitudes ditas “nobres” de alguns políticos e, por outro lado, o que realmente leva os jornais a publicarem esta ou aquela noticia: Interesse pessoal.
Seja em dinheiro, seja em poder. Infelizmente, é isto que realmente move cada uma das atitudes de todo ser humano, não só dos políticos. De outro lado vemos um aluno brilhante cheio de ideais, com pontos de vista muito interessantes, que não aceita as injustiças, mas ao mesmo tempo, não faz nada.
Na nossa simplória concepção o que vale é nossa paz de consciência. Mas será nossa consciência está mesmo em paz? Nos disse T. Roosevelt: “Se eu tiver que escolher entre a paz e a justiça, eu escolho a justiça”. O que ele quis dizer com isso? Poderia haver paz sem justiça?
O que podemos concluir é que a indiferença, veja bem, não estou dizendo o pior, mas com certeza é o maior mal de toda a humanidade.
Lembrando um grande ensinamento do maior sábio que a humanidade já conheceu, Jesus: “Quando deixamos de fazer o bem que podemos, estamos fazendo um mal”.
JOY – do litoral norte gaúcho, matando a pau


Ficha Técnica

Título Original: Lions for Lambs
Gênero: Drama
Ano de Lançamento (EUA): 2007
Direção: Robert Redford

Robert Redford (Dr. Stephen Malley)
Meryl Streep (Janine Roth)
Tom Cruise (Senador Jasper Irving)
Peter Berg (Wirey Pink)
Michael Peña (Ernest)


11/09/2008

0 comentários: