26 março 2009

Clodovil

Pouco me importa o preconceito das pessoas, vou sentir falta do Clodovil. Sua figura ímpar fará falta no cenário brasileiro. Ele passava uma impressão de que falava sem se importar com ameaças ou intimidações. Foi discursar no Congresso e, vendo que ninguém lhe ouvia, chamou os seus pares de mal-educados por não ficarem calados quando alguém estava na tribuna. Chutou o balde em tantas outras situações e talvez seja disso que venhamos a nos ressentir. Ele vai fazer falta. Em meio a esse descalabro moral que vivemos, onde os ladrões do PT estão todos soltos, o Roberto Jéferson faz turismo pelo Brasil, o Maluf está solto, o Jader Barbalho está solto, o Sarney não apenas está solto como continua dando as cartas....em meio a isso tudo, fará falta a voz do Clodovil.
Li na última VEJA a entrevista derradeira que ele deu para tal revista. Lá pelas tantas ele contou uma tragédia de infância que me comoveu. Disse que quando tinha treze anos flagrou seu pai transando com seu tio (irmão da mãe dele). Ou seja, o pai do Clô tava “faturando” o cunhado. Ficou chocado com a traição que ambos estavam impingindo à mãe dele. Longe de querer justificar qualquer postura sua pela vida afora a partir desse momento crucial, o que mais o incomodou foi (penso eu) a traição. E talvez isso o tenha feito um cara moralista, meio conservador. Sim, soa paradoxal, mas o Clodovil era conservador. Do alto de sua rebeldia, de sua figura exótica, do alto de sua trajetória na vida pública do país.
Amigo(a), lembro do tempo em que havia “duas bichonas famosas” (essa era a expressão da época, coisa de anos 70). O Clodovil e o Denner. Durante um tempo eles disputaram a atenção do público com sua opção sexual, seus trejeitos, coisas assim. Mais frágil, o Denner morreu em seguida, abrindo espaço para a fama indestrutível de Clodovil.
Filho adotado, brasileiro, homossexual num país de hipocrisias, um cara solitário, eis a síntese das lutas de Clodovil. Uma pena. Como disse antes, sua voz fará falta no país.
Silvano

1 comentários:

Aida Staszak disse...

Realmente gostava muito dele. Fazia o que gostava, exalava bom gosto, era querido e odiado. Vou sentir sua falta.