09 abril 2009

Coisa de Gordo - 423


423 – GRAMADO
Se você olhar a cidade de Gramado com olhos de urbanidade, verá apenas uma pequena cidade do interior do Brasil. Nada mais que isso. Se viesse um habitante de Marte e ali aterrissasse, pedindo informações, diríamos se tratar de um pequeno aglomerado urbano, algo em torno de quarenta mil habitantes, situada entre no alto da serra gaúcha. O marciano daria uma olhada, faria umas anotações, entraria na sua nave e iria embora.
Gramado era uma cidade como outra qualquer, até que um dia, um prefeito captou no ar uma predestinação daquela comunidade, liderando o nascer de uma pequena metrópole turística. Baseado na cultura alemã, arrumou, pintou, emperiquitou, perfumou a tal cidadezinha e começou a espalhar por aí que ali se passava bem. Descansava-se. Faziam-se as mais belas fotos. E se comia o melhor chocolate.
Passadas umas poucas décadas, Gramado é destaque nacional em Turismo, a paulistada toda desce o país em busca de conhecer Gramado.
O que se faz em Gramado? Ora, come-se e bebe-se do melhor. Isso já se sabe. E aí a gente anda um pouquinho mais e vai até Canela, cidade vizinha que também já acordou para a riqueza da indústria do turismo. E tem Nova Petrópolis, São Chico, e outras cidades ao redor, todas sequiosas de beberem dessa fonte.
Mas o que mais se faz em Gramado? Bem, a gente pode caminhar despreocupadamente pela avenida central, parar na calçada para abraçar um amigo, rir das bobagens da semana, comer uma barrinha de chocolate na Lugano. Dar uma volta pelo Lago Negro, andar de bicicleta, e outras coisas mais.
Ora, o que há de tão maravilhoso nisso, andar de bicicleta e encontrar amigos na calçada em frente à praça? Você que mora em cidade pequena, como eu, talvez não perceba. Mas os milhares de habitantes das metrópoles pagam mundos e fundos para poderem fazer, em cidades pequenas bem estruturadas, aquilo que eles não podem fazer na sua grande cidade. Coisas como pedalar até ali, despreocupadamente, buscar o pão na padaria da esquina, coisas assim.
Percebi tal ritual humano ainda em Garopaba, ao sentar olhos na leveza do coração com que os turistas faziam essas pequenas coisas. E aí me dei conta de que é isso que se vai fazer também nas praias. Brincar de cidade segura. Brincar de ser vizinho dos outros. De jogar vôlei com a turma da rua. Caminhar até a esquina e voltar, só pelo prazer de ver os jardins.
Pois bem, Gramado se permite a tal papel. Ora – dirá você – mas então qualquer cidade pequena pode fazer igual. Nã, nã, nã....aí entram os diferenciais. Os caras decidiram fazer uma cidade legal. E fazem isso a cada dia. E cada vez melhor.
A cada vez que se vem a Gramado as coisas estão melhores. As ruas mais arrumadas. Os canteiros mais floridos. As estradas mais sinalizadas. Então quem sobe até ali sabe que vai passar bem. Muito bem.
A oferta de restaurantes é imensa, os passeios são diversificados, isso todos sabem. E o frio?
Em pleno inverno, a cada vez que a imprensa noticia neve a gauchada toda entra em seus carros e sobe a serra para “pegar neve em Gramado”. Aí a gente cancela compromissos, bota as crianças no banco de trás, puxa a mulher e se toca prá Gramado. Lá chegando...às vezes até que se vê um floquinho de neve,ou dois. Aí se bebe um chocolate quente e caro, e mais tarde se desce pela estrada em direção ao lar, feliz pela tentativa.
Essa é a magia dessas cidades iluminadas. Despertarem em nossas imaginações esses sonhos tão fugazes e improváveis. Mas que nos fazem felizes. Para quem vem da metrópole, “brincar de cidade pequena”. Para quem vem do interior, brincar de cidade limpa e organizada. Cidade com mil possibilidades de consumo. Que as nossas pequenas cidades não têm.
Por isso voltamos a Gramado. De novo. E ainda mais outra vez. Amanhã é sexta-santa? Dia de jejuar? De recolhimento? De moderação? Ah, não..peraí...a gente se mata a semana toda, o mês todo, só para poder dar uma fugidinha aqui e abocanhar toda essa doçura. Não só dos fondues.Não só dos chocolates.Não só do ar contagiante. O que se quer é abocanhar o sonho de se viver em Gramado. Nem que seja só por uns dias.
Feriado santo? Bobagem. Me dá um pacote de chocolate branco que quero passear por ali, sem pensar em mais nada.
Feliz Páscoa.
Silvano – impossível...profano...e adocidado

08/04/2009

1 comentários:

Aida Staszak disse...

Concordo contigo. A nossa Serra tem um encantamento. Acredito que seja pelas ruas bem cuidadas, jardins esmerados, flores e mais flores, miúdas, graciosas, com muito chocolate e artesanato. Adoro chegar lá utilizando a chamada estrada velha, pode ser mais perigosa, mas a sua beleza compensa. E as pessoas parecem se encaixar em todo o contexto da cidade - educadas, sorridentes, exalando bom gosto e gentilezas. E quanto aos chocolates, coma alguns por mim e não esqueça do capuccino e chocolate quente e sorvetes, enfim tudo isto que nos regala a vida. Boa Páscoa, sempre lembrando do verdadeiro significado desta data.