28 agosto 2009

Coisa de Gordo - 443



443 – FAMÍLIA – frente & verso
Já tinha plantado uma árvore. Várias, aliás. Já tinha tido filhos. Não, não foram vários. Faltava-me o livro. Em que pese seja um escrevinhador de antanhos, faltava-me o livro. Ano passado conversávamos eu e meu amigo JERRI acerca da publicação de livros. Eram meados de outubro, tempo de Feira do Livro de Porto Alegre. Após uma breve combinação, assumimos um compromisso, selamos um pacto. Faríamos um livro para estar na próxima Feira do Livro. Nos demos um ano de prazo. Conseguiríamos? Conseguimos!
Na verdade isso nasce um pouco antes. O Jerri é professor e historiador e já percorre o caminho das letras impressas faz mais tempo. Aqui nesse espaço já comentei um livro dele, o DESAFIO DA FELICIDADE, tem ainda o HERÓIS DE PAPEL e o FILOSOFIA DA CONVIVÊNCIA. O homenzinho é um ativo escritor, portanto. Em tempos mais antigos ainda ele já me desafiara a que escrevêssemos um livro a quatro mãos, achei o tema proposto meio soturno, a conversa se perdeu no esquecimento.
Passaram-se os anos e estávamos juntos, eu e ele, na cidade de Triunfo, interior gaúcho, para fazer um trabalho espírita naquela região. O tema do encontro era FAMÍLIA e lá nos fomos num domingo chuvoso. Não chegamos a combinar muitos detalhes, mas o trabalho dividir-se-ia em duas partes. Na primeira, o Jerri falaria dos aspectos sociais, históricos e filosóficos da instituição Família. Na segunda parte eu falaria das coisas práticas, dos relacionamentos, dos embates entre pais e filhos. O resultado do trabalho foi bem interessante, o público que nos prestigiou participou bastante, foi uma coisa bem gratificante. Ao sairmos dali comentamos que isso daria um livro! E foi aí que nos demos o tal prazo aquele que comentei no início do texto. Começamos a redigir, eu escrevia um capítulo e mandava para ele por email, no dia seguinte ele me respondia, sugeria coisas aqui e ali. Os dias e semanas foram se passando.
Organizamos uma espécie de esqueleto do futuro livro, a ordem e os títulos de cada capítulo. E principalmente quem escreveria o quê. A coisa foi crescendo, tomando forma. Aí tivemos que envolver uma terceira pessoa. Uma amiga, minha, Caroline, diagramadora de primeira ordem, artista dos teclados e coisas gráfico-digitais, foi chamada a dar sua contribuição. Ela faria a diagramação, a capa, o projeto gráfico enfim. Começaram os testes, as sugestões, mais emails cruzando a rede mundial, a coisa foi afunilando. Os capítulos estavam prontos, o projeto gráfico também, era hora de buscar uma editora. Seguindo o caminho mais óbvio a nos dois, eu e o Jerri levamos o projeto para a Livraria e Editora Francisco Spinelli, a editora da FERGS (Federação Espírita do RGS). Após os passos burocráticos, os registros, as correções, eis que no dia inicial do Congresso Espírita Estadual o livro chegou às nossas mãos.
Foi uma coisa emocionante, quase indescritível. Após todo o ano de idéias, conversas, buscas, ver se materializar o nosso livro. Está no mercado, portanto, esse nosso singelo livro. O primeiro ponto de lançamento foi esse do congresso em Porto Alegre, dia 22 de agosto (foto aqui ao lado), onde recebemos o carinho e o afeto de muita gente. Os próximos passos vem a seguir. No dia 03 de setembro, quinta-feira próxima, haverá aqui em Santo Antônio um evento com a Palestra de abertura seguida da noite de autógrafos. Mais momentos de emoção e carinho se aproximam, portanto.
Estamos em festa. Tenho distribuído convites por toda a cidade nesses últimos dias. Para mim é uma coisa tão inusitada, impensável, pego o livro com as mãos, vejo nossos nomes na capa, parece um sonho. Um sonho que se realizou.

Cumprindo o prazo que nos houvéramos dado, na Feira do Livro de Porto Alegre de 2009 teremos nossa "tarde de autógrafos" provavelmente na tarde do sábado 14 de novembro, às 17:30h. Marque na sua agenda!
Talvez você esteja surpreso, imaginando que o primeiro livro seria sobre esse nosso COISA DE GORDO. Fique tranqüilo, esse já está sendo mentalizado. Um dia virá. Mas esse que agora divulgo é o primeiro.
Silvano – o impossível, tornando as coisas possíveis


ONDE VOCÊ VAI COMPRAR O SEU?
Nas melhores casas do ramo (resposta padrão). Principalmente na Livraria da FERGS. Acesse http://www.fergs.org.br/ e vá em livraria. E por fim, se quiser, me mande email pedindo o livro que mediante o depósito do valor, lhe envio por correio.


28/08//2009

21 agosto 2009

Coisa de Gordo - 442


442 – Eram anos longínquos aqueles. No país, imperava a ditadura militar e não se sabia que o filho do presidente da República tivesse enriquecido subitamente. O Sarney já existia, caro(a) leitor(a), e já tinha por hábito apropriar-se do alheio. A diferença é que o presidente não o defendia com unhas e dentes.
Em nível estadual, não terei muitos detalhes na lembrança, posto que morava fora daqui, mas sei que eram anos de domínio do Internacional sobre seu rival Grêmio, os campeonatos estaduais vinham sendo ganhos pelo time colorado. Faltava um ano para a Copa do Mundo da Alemanha, estávamos, portanto, em 1973. Sei, sei , algum leitor por certo nem havia nascido.
Havia casos de corrupção aqui no Estado, isso é óbvio, mas nem de longe se aproximavam desse enorme rolo do Detran, da casa da governadora, eram casinhos quase que amadorísticos que não alteravam a ordem natural das coisas.
Morávamos na cidade de Castro, interior do Paraná, perto de Ponta Grossa.
Era e creio que ainda é uma pequena comunidade interiorana. Lembro de detalhes inusitados. O telefone de nossa casa tinha TRÊS dígitos e o aparelho de telefone não tinha números. A gente apenas levantava o telefone do gancho e uma telefonista atendia, solicitando o número. Isso significa que em toda a cidade havia no máximo mil telefones. Por aí você já pode ir compondo o cenário.
Nos fins de semana caminhávamos com nosso Pai até os arredores da cidade, brincando com nossa cachorra ADA, pastora alemã, que corria pelos campos verdes daquele entorno. Havia trilhos de trem cruzando a periferia, e o movimento era intenso. Certa feita passava uma composição puxada por duas locomotivas e empurrada por uma terceira, e nunca esquecerei do número de vagões. Ficamos parados ao lado dos trilhos, esperando para poder atravessar, e contei 42 vagões de carga! Imagino que devam haver composições maiores e mais possantes do que essa, mas na minha cabeça infantil aquilo foi quase que um trauma, um referencial de tamanho. Sempre tive esse número como um paradigma de valor, vida afora. Nas nossas caminhadas, pairava no ar um cheiro de café torrado, pois havia por perto uma espécie de torrefação, uma pequena fábrica, imagino eu, onde se fazia café em pó.
Estudava eu no Colégio São José, um colégio de freiras, e cursava a quarta série do primário.
Dentro de minha pequena inocência, entre uma fatia de pão com manteiga e outra, eu era aluno dedicado aos estudos, tanto que jamais houvera causado problema aos meus pais nesse sentido.
Nesse contexto todo, aconteceu algo que me acompanharia vida afora.
Vim fazendo o primeiro bimestre normalmente até que vieram as primeiras notas. Meu boletim veio reluzente, cheio de notas 9,0 e 10,0. Mas fiquei estarrecido ao ver uma coisa. Na matéria de Educação Moral e Cívica veio uma nota 6,0 !! Além do choque pela nota em si, descobri outra coisa. Por causa daquela nota, eu não fazia jus a uma estrela dourada que era dada como prêmio aos alunos que tivessem apenas notas boas. Ali, logo abaixo das notas, a estrela dourada era aposta e servia como estímulo aos que a conquistavam e castigo aos que dela se afastavam.
Fui interrogar a freira que dava a matéria acerca daquela nota e também saber da estrela. Ela me explicou isso que coloquei até aqui e disse-me que eu apenas fora brindando com aquele 6,0 por não ter entregue um determinado trabalho. Achei estranho aquilo, não era de fazer tais coisas, mas naquele tempo não se discutia com professor e muito menos ainda se fosse uma freira. Por quase nada a gente era jogado no fogo do inferno. Muito mansamente, ponderei com a tal freira se não havia nada que eu fizesse para recuperar aquela nota e ela então disse que bastava fazer o trabalho.
Aliviado, fui para casa e me pus a executar o trabalho. No dia seguinte, certo de que aumentaria minha nota e mais certo ainda de que obteria minha estrela, estava com o trabalho em mãos e pronto para ser entregue. Entreguei a ela e esperei os dias seguintes. Nada mudou. Fui perguntar-lhe o que estava havendo e então ela me disse que a nota não mudaria, já tinha sido dada, que elas não voltavam atrás, que eu NÃO TERIA MINHA ESTRELA, cacete! Mas que gordinho chato – ela deve ter pensado!
A freira mentira para mim! Me enganara. Me fizera redigir todo um trabalho, depositara em meu pequenino coração a esperança de ver luzir uma estrela em meu horizonte, mas sabendo o tempo todo que a nota não mudaria e a estrela não viria. Ela conseguiu matar ali, no alvorecer de meus dez anos, a primeira de muitas ilusões que viriam a morrer a partir dali.
Esse episódio gravou em meu imaginário uma mensagem negativa e por vezes errada: - Freiras mentem! Carreguei isso pela minha vida afora: Freiras mentem! O que foi uma completa distorção.
Lá mesmo naquele colégio tive a chance de fazer outras descobertas sobre irmãs católicas. A diretora da escola era um trator , uma freira chamada Irmã Nelsa (pronunciavam NEUSA) Pellanda. Era um mulher dura, cruel, vi saírem de seus olhos faíscas de ódio que nunca mais vi pela minha vida afora. E, no entanto, tinha a Irmã Apoline, nossa professora de português, que me ensinou a conjugar verbos como mais ninguém o fez, ensinamentos que trago até hoje. Era uma pessoa calma, serena, pacífica. Tinha a Irmã Angelita, que nos dava aula da Religião, e que igualmente era um doce de pessoa, exemplo de conduta para qualquer pessoa. Enfim, as pobres irmãs apenas refletiam o que se via do lado de fora dos conventos. Eram uma fração da comunidade, com elementos bons e ruins. Nem anjos. Nem demônios.
O episódio da estrela no boletim me alertou para a vida que ali se ensaiava, o mundo real. Pela estrada afora, eventualmente me deparei com promessas não cumpridas, com malícia, com malevolência. E sempre me reportei ao episódio do boletim, pensando intimanente: - Eu já passei por isso, eu já sabia que podia ser assim.
Para fechar o relato, nos bimestres seguintes obtive as tais estrelas sem dificuldade. Veja na foto ao lado a aparência delas. Mas perceba ali ao lado delas, aquele vazio, aquela mácula, aquela ausência estelar. Parece que essa me ensinou mais e reluziu mais com o passar dos anos. Média final de aprovação: 9,2 ! Mas bah, guri véio! Que notão!
Silvano – nostálgico

CLIQUE NA IMAGEM..
e perceba os detalhes do boletim, as notas, lá embaixo as assinaturas de duas freiras, uma boa e outra ruim. E examine as estrelas...ah, as estrelas...
21/08/2009

13 agosto 2009

Coisa de Gordo - 441


441 – CICLOS
Vivemos em ciclos, a vida de fato é feita deles. Num discurso de fim-de-ano, numa pequena escola estadual de Porto Alegre, uma diretora disse que “há um tempo para plantar e um tempo para colher”. Lulu Santos reforçou dizendo que “a vida vem em ondas como o mar”. A Alcione entoa seu vozeirão para cantar que “a vida é um eterno voltar”.
Perceba, portanto, amigo(a) leitor(a), que o tema é recorrente nas palavras e criações das pessoas. Ciclos.
Vejamos o caso do Michael Schumacher. Multicampeão da Fórmula Um, obteve nas pistas aquilo que nenhum outro piloto jamais obterá. Em número de vitórias, de campeonatos, de recordes cada vez mais difíceis de superar. Essa era uma parte do ciclo dele. Aí ele olhou para a esposa, os filhos, os milhões de dólares acumulados e decidiu parar. Chega – deve ter pensando. Está na hora de eu curtir um pouco isso tudo. Daqui a pouco posso morrer num acidente, numa viagem, numa mola que vem pela pista. E parou. Por essas coisas do destino, eis que a Ferrari fica sem um de seus pilotos e lançam mão de quem? Dele, do Schumi! Nossa, que bomba publicitária. Schumacher vai voltar a correr. Vai? Vai mesmo? Nada disso, ele de novo deve ter acordado num dia, olhado para a esposa, os filhos, os amigos, os tais milhões de dólares que insistiam em continuar lá e gritou: - EPA! Cara, to fora! Chama outro. O que o velho alemão do asfalto percebeu foi a teoria dos ciclos. Não estiver presente no discurso daquela diretora de escola de Porto Alegre, mas deu-se conta de que sim, ele tinha tido o seu tempo de plantar. E como plantara! E que agora era o seu tempo de colher!
Vejamos o caso do Fernandão. Sim, o Fernandão, ídolo da torcida colorada, capitão das conquistas maiores do time do Internacional. Mito na história do clube de futebol. Adorado e amado pela torcida. Líder incontestável dentro e fora de campo. E que um dia foi jogar noutro continente. Passam-se os meses e eis que surge a chance desse ídolo retornar ao clube. Uau! Já pensou? O Fernandão de volta!! Parece que ele mesmo entrou nessa onda e pelo jeito queria ter voltado ao Inter por agora. Nesse caso, a clarividência teve que vir de fora. Parece que foi um dirigente (o Fernando Carvalho) que se deu conta. Conta de que o ciclo do Fernandão foi inigualável no Inter, mas esse ciclo já tinha passado. Ele já plantara e já colhera. A hora (pensou o dirigente) é de deixar outros virem semear. E parece que o clube evitou trazer o jogador de volta para não ter que testemunhar um fim decepcionante para alguém que o clube tanto ama.
Vejamos o caso do Silvano, o impossível! Ahá, dessa vez o assustei! Calma, não vou sair das pistas e nem abandonar os gramados. Iniciei o caminho deste blog COISA DE GORDO de forma incipiente, enviando emails a um pequeno grupo de amigos. O tempo correu, esse curto ciclo inicial deu lugar a outra coisa. Passo seguinte, orientado pelo meu webmaster Geovanni Bertaco, adentrei as portas do SITE COISA DE GORDO, devidamente hospedado no Brasil On Line, o BOL! Muitas coisas boas rolaram ali naquele espaço. Ali, além dos textos, comecei engatinhando nas imagens eventuais para ilustrar os textos. Volta e meia, pela minha inoperância, tinha que me socorrer do Geovanni para configurar alguma coisa, fazer alguma correção, um ajuste. O quase nada que sei de linguagem HTML foi ali que aprendi. Os comandos mais simples. Também esse ciclo se encerrou. Migrei para o BLOG COISA DE GORDO, por sugestão de um blogueiro chamado Ivens Branco que sequer me conhecia, e que num belo dia me mandou uma mensagem falando de blog, o que era aquilo, as facilidades, a agilidade nas postagens, etc. O ciclo do site se fechou e abriu-se este novo e atual ciclo. Mais interatividade, mais variedades, mais dinâmica!
Pois acredite você, estou em tratativas para, TALVEZ, migrar mais uma vez. Virar esta página para abrir outra totalmente nova. Mais forte, mais visível.
Deixo-lhe curioso, portanto e por enquanto. Até que as coisas se clareiem, não divulgarei nada! Mas fique atento, um ciclo maior parece estar se abrindo. E tomara que eu esteja dentro dele para navegar em mais esta aventura.
Mas fique calmo(a), você será a primeira pessoa a ser avisada!
Silvano – além de impossível, misterioso

13/08//2009

11 agosto 2009

Pizza no Peixe

Um amigo (Odilon) nos falou dessa Pizza a que ela assistira de manhã no Globo Rural. Como é que é? - perguntamos - uma pizza em que a massa é o próprio peixe. Isso mesmo. Enfim, veja o vídeo. Silvano

05 agosto 2009

Coisa de Gordo - 440



440 – O CLUBE DO FILME
Um pai está em crise diante da educação de seu filho. O que fazer para resolver a situação? Ora, ele funda o Clube do Filme.
Nesta curta entrada de texto está a síntese desse interessante livro. A sra Kátia me presenteou com tal obra literária sabedora de minha atração pela sétima arte. Partindo dessa simples premissa, desdobra-se a narrativa de todo o livro. Um homem mora com sua segunda esposa, mas é tão amigo da primeira esposa que eventualmente viajam juntos. O que os une? Seu filho adolescente Jesse. E Jesse está em crise, vai mal na escola, vai a festas, volta bêbado. O pai preocupado tem que buscar uma saída.
Em meio a isso, justamente esse pai, o canadense David Gilmour, está meio que sem emprego. Trabalhava em filmes, montagens, projetos de curta-metragens. E justo neste momento está sem trabalho, sem dinheiro, sem possibilidades.
Pode soar estranho a alguns este pequeno drama familiar, mas a mim soou bem familiar. Todos nós que temos (meu caso) ou teremos filhos (talvez o seu) um dia nos confrontaremos com isso. O filho diante das portas escancaradas da vida. Portas que se abrem para jardins ensolarados, mas que também se abrem para masmorras intermináveis. E ali estamos nós, pais e mães, inseguros, preocupados com os caminhos que nossos filhos vão trilhar.
Munido desse sentimento, Gilmour faz uma coisa que poucos de nós teríamos coragem de fazer. Permite que o filho abandone a escola, impondo apenas uma condição. Eles dois teriam que assistir juntos a três filmes por semana. O jovem escuta aquilo meio admirado, primeiro por ver que o pai permite que ele saia da escola e segundo por achar meio pitoresco aquilo. Ver filmes? Vamos nessa.
A partir daí o autor do livro desenrola uma série de filmes, desde clássicos do cinema como Sindicato dos Ladrões até filmes mais, digamos assim, mundanos. Ali, na sala de casa, os dois desocupados vão assistindo filmes e se emocionando, debatendo idéias e por vezes se enfarando.
Passam-se três anos. Muitos filmes.
Começam a aparecer trabalhos para o pai desocupado e o filho se vai para longe. O tempo passa. Eles se reencontram. Decisões terão que ser tomadas. Caminhos serão percorridos.
Algumas coisas merecem destaque neste livro. A primeira é o belo desfile de filmes e os comentários e curiosidades acerca de cada um deles. Uma historinha paralela. Uma briga do diretor com a atriz. Assim por diante. Por isso só esse livro já vale a pena. Uma homenagem ao cinema. Uma ode. Uma festa.
O outro aspecto relevante é o dilema pai-filho. Lá pelas tantas aparece uma namorada que esnoba o filho, faz ele sofrer. Gilmour se contorce diante daquilo, sem ter muito o que fazer. Noutras vezes ele se segura diante dos tropeços do filho, com um ímpeto de querer arrancá-lo de drogas, fracassos, perdas. Mas a vida real não permite isso e ele, sofrendo por ser pai, tem que administrar essa sua vontade.
Esse é um outro atrativo desse filme. Lembrar-nos de nossa condição de pais e mães, meros assistentes das tragédias das vidas de nossos filhos. Aqui e ali, a gente vai tentar influir. Mas “ao fim e ao termo”, eles trilharão as estradas que escolherem. Queiramos ou não. Por isso sofremos. Trata-se de um belo livro. Não é o melhor do ano nem merece nota dez. Leva no máximo um 7,5 ou 8,0. Mas como diversão (cinema) e sentimento (filhos) é muito bom. Divirta-se.
Silvano – o impossível

06/08//2009


ENTREVISTA COM O AUTOR (Agência Estado)
Como o cinema surgiu em sua vida?
Gilmour -
Eu via filmes como todo mundo, mas tive a revelação em 1972, quando assisti a "Último Tango em Paris", de Bernardo Bertolucci. O filme me marcou tanto que resolvi, instantaneamente, que queria ser ator. Sou canadense, mas fui para Nova York, em busca de uma carreira. Não deu certo, porque era muito ruim como ator, mas a paixão pelo cinema continuou e consegui um trabalho como crítico no Canadá.

E o filme de Bertolucci, continua uma paixão?
Gilmour - "Último Tango" foi importante para mim, num determinado momento, como obra de descoberta. Aliás, dupla descoberta. Me descobri e descobri o cinema, mas a obra, embora lindamente filmada, possui seus limites. Há um lado infantil muito forte em "Último Tango" e toda a parte com Jean-Pierre Léaud e aquela câmera me parece hoje constrangedora. Em compensação, os solilóquios de Marlon Brando continuam sendo, talvez, os mergulhos mais profundos de um ator na complexidade da natureza humana.

O propósito do clube não era didático, era?
Gilmour -
Não, porque o didatismo seria um retorno à escola, que Jesse não queria encarar. Os filmes podiam ser bons ou ruins, não importa, o importante era a qualidade da nossa conversa. Mas acredito que consegui lhe inculcar alguma coisa. Quando lhe mostrei "Ran", de Akira Kurosawa, deixei claro que ele poderia gostar, ou não, mas aquele é um filme que faz a diferença. A arte, e o cinema, fazem bem para a alma. Em compensação, errei ao lhe mostrar "Os Incompreendidos". Ele não estava preparado para o cinema europeu e só conseguiu gostar do filme de (François) Truffaut mais tarde.