05 agosto 2009

Coisa de Gordo - 440



440 – O CLUBE DO FILME
Um pai está em crise diante da educação de seu filho. O que fazer para resolver a situação? Ora, ele funda o Clube do Filme.
Nesta curta entrada de texto está a síntese desse interessante livro. A sra Kátia me presenteou com tal obra literária sabedora de minha atração pela sétima arte. Partindo dessa simples premissa, desdobra-se a narrativa de todo o livro. Um homem mora com sua segunda esposa, mas é tão amigo da primeira esposa que eventualmente viajam juntos. O que os une? Seu filho adolescente Jesse. E Jesse está em crise, vai mal na escola, vai a festas, volta bêbado. O pai preocupado tem que buscar uma saída.
Em meio a isso, justamente esse pai, o canadense David Gilmour, está meio que sem emprego. Trabalhava em filmes, montagens, projetos de curta-metragens. E justo neste momento está sem trabalho, sem dinheiro, sem possibilidades.
Pode soar estranho a alguns este pequeno drama familiar, mas a mim soou bem familiar. Todos nós que temos (meu caso) ou teremos filhos (talvez o seu) um dia nos confrontaremos com isso. O filho diante das portas escancaradas da vida. Portas que se abrem para jardins ensolarados, mas que também se abrem para masmorras intermináveis. E ali estamos nós, pais e mães, inseguros, preocupados com os caminhos que nossos filhos vão trilhar.
Munido desse sentimento, Gilmour faz uma coisa que poucos de nós teríamos coragem de fazer. Permite que o filho abandone a escola, impondo apenas uma condição. Eles dois teriam que assistir juntos a três filmes por semana. O jovem escuta aquilo meio admirado, primeiro por ver que o pai permite que ele saia da escola e segundo por achar meio pitoresco aquilo. Ver filmes? Vamos nessa.
A partir daí o autor do livro desenrola uma série de filmes, desde clássicos do cinema como Sindicato dos Ladrões até filmes mais, digamos assim, mundanos. Ali, na sala de casa, os dois desocupados vão assistindo filmes e se emocionando, debatendo idéias e por vezes se enfarando.
Passam-se três anos. Muitos filmes.
Começam a aparecer trabalhos para o pai desocupado e o filho se vai para longe. O tempo passa. Eles se reencontram. Decisões terão que ser tomadas. Caminhos serão percorridos.
Algumas coisas merecem destaque neste livro. A primeira é o belo desfile de filmes e os comentários e curiosidades acerca de cada um deles. Uma historinha paralela. Uma briga do diretor com a atriz. Assim por diante. Por isso só esse livro já vale a pena. Uma homenagem ao cinema. Uma ode. Uma festa.
O outro aspecto relevante é o dilema pai-filho. Lá pelas tantas aparece uma namorada que esnoba o filho, faz ele sofrer. Gilmour se contorce diante daquilo, sem ter muito o que fazer. Noutras vezes ele se segura diante dos tropeços do filho, com um ímpeto de querer arrancá-lo de drogas, fracassos, perdas. Mas a vida real não permite isso e ele, sofrendo por ser pai, tem que administrar essa sua vontade.
Esse é um outro atrativo desse filme. Lembrar-nos de nossa condição de pais e mães, meros assistentes das tragédias das vidas de nossos filhos. Aqui e ali, a gente vai tentar influir. Mas “ao fim e ao termo”, eles trilharão as estradas que escolherem. Queiramos ou não. Por isso sofremos. Trata-se de um belo livro. Não é o melhor do ano nem merece nota dez. Leva no máximo um 7,5 ou 8,0. Mas como diversão (cinema) e sentimento (filhos) é muito bom. Divirta-se.
Silvano – o impossível

06/08//2009


ENTREVISTA COM O AUTOR (Agência Estado)
Como o cinema surgiu em sua vida?
Gilmour -
Eu via filmes como todo mundo, mas tive a revelação em 1972, quando assisti a "Último Tango em Paris", de Bernardo Bertolucci. O filme me marcou tanto que resolvi, instantaneamente, que queria ser ator. Sou canadense, mas fui para Nova York, em busca de uma carreira. Não deu certo, porque era muito ruim como ator, mas a paixão pelo cinema continuou e consegui um trabalho como crítico no Canadá.

E o filme de Bertolucci, continua uma paixão?
Gilmour - "Último Tango" foi importante para mim, num determinado momento, como obra de descoberta. Aliás, dupla descoberta. Me descobri e descobri o cinema, mas a obra, embora lindamente filmada, possui seus limites. Há um lado infantil muito forte em "Último Tango" e toda a parte com Jean-Pierre Léaud e aquela câmera me parece hoje constrangedora. Em compensação, os solilóquios de Marlon Brando continuam sendo, talvez, os mergulhos mais profundos de um ator na complexidade da natureza humana.

O propósito do clube não era didático, era?
Gilmour -
Não, porque o didatismo seria um retorno à escola, que Jesse não queria encarar. Os filmes podiam ser bons ou ruins, não importa, o importante era a qualidade da nossa conversa. Mas acredito que consegui lhe inculcar alguma coisa. Quando lhe mostrei "Ran", de Akira Kurosawa, deixei claro que ele poderia gostar, ou não, mas aquele é um filme que faz a diferença. A arte, e o cinema, fazem bem para a alma. Em compensação, errei ao lhe mostrar "Os Incompreendidos". Ele não estava preparado para o cinema europeu e só conseguiu gostar do filme de (François) Truffaut mais tarde.

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